sábado, 14 de junho de 2008


Esse novo livro de Patricia Melo, trata de duas paixões, é bom logo avisar, cultivadas de modo mais que peculiar. Como leitor, o herói de Jonas, o copromanta corrige os romances que lhe caem nas mãos, quer se trate de Dostoiévski ou Nabokov. E, no terreno da adivinhação, o herói tem seu próprio sistema, baseado no estudo compenetrado das formas do bolo fecal. Corrigir romances, decifrar fezes: meras esquisitices, até o momento em que, ao ler “Copromancia”, conto de Rubem Fonseca, Jonas chega à certeza alucinada de ter sido dolorosamente plagiado por seu ídolo. Para piorar as coisas, a realidade resolve dar uma mãozinha à obsessão, e o escritor passa a freqüentar a biblioteca, fazendo (ou talvez simulando?) pesquisas para seu próximo romance.
A partir daí, o enredo mergulha numa espiral vertiginosa de perseguição e loucura. A leitura fervorosa que se transforma em suspeita de plágio (“Nunca se sabe do que um escritor é capaz”) vai aos poucos roubando a substância do herói:
os livros de Rubem Fonseca seriam uma transfiguração da vida de Jonas, ou esta seria um reflexo fantasmagórico do que se passa nos livros do autor carioca? No ponto mais baixo dessa espiral, está a figura eqüina e grotesca de Zoé, que Jonas transforma em sacerdotisa da copromancia. Sumo mistério ou simples miséria? Segredos ocultos ou sordidez à mostra? Com esta fábula carioca feita de desvario e solidão, Patrícia Melo inscreve seu herói singular na galeria romanesca de pobres-diabos que é um dos veios centrais da literatura brasileira.

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