segunda-feira, 28 de julho de 2008

Volte para o seu lar.


E passou mais um final de semana de Lei Seca. E nada de beber e dirigir. E os taxistas estão faturando como nunca. E a cidade diminuiu o número de atendimentos médicos por causa de acidentes no trânsito. E a gente começa a aprender a se divertir em casa.

Chega de boates. Os clubes correm o risco de ganhar a pecha de redutos de drogados e solitários desesperados ou esnobes. Com as restrições ao consumo de álcool, finalmente enterramos os anos 90. Ser clubber virou sinônimo de gente que parou no tempo.

É hora de fazer uma noite de jogos em casa, chamar aquele amigo solteiro que está interessado naquele colega, abrir um vinho e aproveitar a noite, a madrugada, sem culpa, e improvisar um cantinho para a turma dormir, e vamos reclamar de novos conflitos. Quem usou aquele seu creme anti-rugas caríssimo escondido no banheiro? A bicha louca queima seu sofá com cigarro! A desastrada quebra suas taças de cristal! O síndico uó te multa por causa algazarra!

Descobrimos uma nova forma de amizade. Nada de ficar gritando no ouvido do outro, como se fazia na pista. A gente tem de aprender a conversar. Quem não tem conteúdo vai ter de se virar para bater um bom papo.

Com a Lei Seca, caiu a ficha da inflação da noite. Como os preços das bebidas e dos ingressos são exorbitantes nas boates! Agora, em casa, dá para economizar nos drinques e guardar o dinheiro para viajar e outras coisas úteis.

Aos poucos, outros programas se candidatam a virar rotinas nos sábados e domingos, como ver vídeos legais e engraçados no YouTube, criar um novo blog, fazer um "playlist", aprender a mexer em um programa de tratamento de imagens e edição de som, com a ajuda dos amigos.

É evidente que os clubes mais sólidos e profissionais vão conseguir superar as turbulências do mercado. Mas eles precisam renovar suas atrações, espantando a mesmice e criando chamarizes extras. Nesse caminho, algumas casas noturnas vão sofrer com os novos hábitos estimulados pela Lei Seca, que é criticada pelo excesso de rigor e pela brecha para a prática da propina.

Em uma cidade hostil aos relacionamentos como São Paulo, nem sempre é fácil ter laços de intimidade, de ir a casa de um colega de trabalho ou se convidar. Às vezes, precisamos respirar, ver gente nova em um clube e enfrentar a loteria do amor e do sexo em uma pista. Nestes tempos de discursos neomoralistas e repressores, a saída mais prudente é se abrigar no melhor lugar do mundo: a sua casa.

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